terça-feira, 8 de abril de 2014

#71

INTENSO.
Talvez eu devesse me desculpar por começar essa narrativa de maneira tão objetiva e talvez até um tanto deselegante, sem nem te oferecer, já de início, um lugar na minha poltrona frente a lareira, sentindo o calor e namorando a chuva que teima em provocar o fogo pela porta entreaberta. Fique à vontade. Beba seu café antes que o frescor da chuva o esfrie. A chuva esfria. Traiçoeira.
INTENSA. Sim. Até engraçado pensar que sem intenção, essa combinação é exata. Nada define, melhor que INTENSIDADE, mesmo que pareça infinitamente clichê. E é.
Sabe, quando um simples olhar te provoca uma verdadeira catástrofe físico/química/psicológica? INTENSO. Desde o primeiro momento. Sem mais explicações, ou motivos pré-meditados, e ainda: Nada mais que possibilitasse a quebra daquele contrato assinado há muitas vidas atrás, afirmando pelo arrepio da pele e pelo reconhecimento das almas através dos olhos. Tinha que ser feito. E foi. INSTINTO. Ali, nenhum pudor que criasse impedimento ou justificasse o nome de anjo. Era pele. Os corpos ardiam diante de uma simples premissa: O descanso dos olhos. Era chama. Desde o delicado encontro dos lábios, o toque ao seio numa fome tão voraz e ao mesmo tempo singela, maternal tal como estivesse se sentindo em casa, pedaço do meu chão. Um só. Até a perfeita cadência da ginga, do samba entre nossas cinturas. Era um diálogo tão perfeito que chegava a ser sobrenatural. A conversa fluía dentro de um vulcão que tornava praticamente impossível um encontro sem atrito. ERA. Assim como café esfria. A chuva ou lava, ou devasta. INTENSIDADE. É, a chuva ainda insiste em provocar a porta entreaberta, vejo a garoa. Chove, não molha mas não desiste. Continua lá cada vez que abro a janela.